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Mulheres nas olimpíadas - elas sempre tiveram o direito de competir?

Atualizado: 8 de jul. de 2021

Estamos há quase um mês do início dos Jogos Olímpicos de Tóquio que ocorrerão em 2021 por conta da pandemia de COVID-19 que impossibilitou a sua realização em 2020.


Em 2020, o Globo Esporte escreveu uma notícia relatando que, das 50 modalidades, oito terão mais homens que mulheres nos Jogos de Tóquio, o que deixa evidente que a desigualdade de gênero é uma realidade nas olimpíadas também. Será que sempre foi assim?


Histórico


Infelizmente, a resposta para a pergunta acima é "sim". Assim como nas ciências, a presença das mulheres nos esportes também só veio depois de muito tempo de luta pelo seu espaço, sendo que ainda há lacunas visíveis entre os gêneros.


Foi na cidade de Olímpia, na Grécia Antiga, por volta do ano 776 a.C. que os Jogos Olímpicos surgiram. Tinham como objetivo homenagear deuses gregos e promover interação entre os povos. Porém, as mulheres não eram permitidas nem sequer a assistir ao jogos. O termo “persona non grata” vem do latim e significa “pessoa não agradável”, “não querida” ou “não bem-vinda”, exatamente o que significava a presença feminina nas Olimpíadas da Grécia Antiga. Apenas cidadãos gregos podiam participar, o que incluia homens com mais de 21 anos, que fossem atenienses e filhos de pais atenienses.


A primeira competição olímpica da Era Moderna aconteceu no dia 6 de abril de 1896, em Atenas. Ela foi a maior da época, com a presença de 241 atletas e 14 países, porém com a de nenhuma mulher. As mulheres ainda não podiam competir, mas agora elas não eram mais proibidas de assistir aos jogos.


A não participação delas era justificada pela alegação de que o intenso contato físico e excesso de esforço que ocorre nos esportes poderia oferecer algum risco à saúde das mulheres. Considerava-se que o seu corpo foi feito para maternidade e não para práticas esportivas. Pierre de Coubertin, idealizador das Olimpíadas, falava o seguinte: “É indecente ver mulheres torcendo-se no exercício físico do esporte”.


No Brasil, essa mesma concepção era vigente. O Decreto-Lei nº 3.199 de 14 de abril de 1941 dizia o seguinte:

Às mulheres não se permitirá a prática de desportos* incompativeis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país. (Art. 54)

*Desporto = esporte


A conquista do direito de participar dos Jogos Olímpicos


Um marco muito importante da participação feminina nas olimpíadas ocorreu um dia após a corrida oficial da 1ª Olimpíada da Era Moderna em 1896. Stamati Revithi, uma mulher grega, correu todo o percurso da corrida como forma de protesto contra a alegação de que mulheres não podiam participar dos Jogos.


Em 1900, as Olimpíadas de Paris, as mulheres puderam participar, correspondendo a 2,2% dos competidores, com 22 representantes. Elas puderam competir nas modalidades do Golfe e do Tênis, pois o Comitê Olímpico Internacional considerou esses esportes mais adequados por não haver contato físico.


A primeira campeã olímpica (em 1900 nas Olimpíadas de Paris) foi a tenista inglesa, Charlotte Cooper, que já era tricampeã de Wimbledon e ganharia ainda mais dois títulos do torneio. Mesmo assim, a participação feminina oscilava a cada ano.


A primeira brasileira a competir nos Jogos Olímpicos foi Maria Lenk, em 1932, com 17 anos (SIM! Ela passou por cima do decreto de 1941 para competir). Maria Emma Hulga Lenk Zigler (1915-2007) nasceu em São Paulo e é considerada a principal nadadora do Brasil. Mesmo não tendo ganhado medalhas olímpicas, é considerada pioneira da natação moderna.


Em um ritmo bem lento, as mulheres foram conquistando seus espaços em cada vez mais modalidades nas Olímpiadas. Em 1979, o Decreto-Lei de 1941 citado acima foi revogado. Mas foi só depois de 17 anos que as medalhas passaram a ser entregues às atletas brasileiras, sendo os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, um marco dessa conquista.

Foi somente em 2012, nas Olimpíadas de Londres, que pela primeira vez na história a participação feminina foi em todas as modalidades que os homens participaram. Foi também a primeira edição em que todos os países que participaram das Olimpíadas tiveram ao menos uma mulher em suas delegações.


Em 2016, a presença feminina atingiu 45% na edição dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, alguns países até tinham mais atletas mulheres em suas delegações do que homens. O Brasil competiu com o maior número de mulheres da história no seu time, com 209 competidoras no total.


A delegação feminina de 2020/2021 será a maior até hoje percentualmente, representando 48% dos competidores. Espero que você, queride leitore, que está chegando ao final desse texto esteja com o coração tão quentinho quanto o meu depois de ter lido sobre todas essas conquistas. Ainda há um caminho para se percorrer até a igualdade de fato, afinal a desigualdade está na estrutura da nossa sociedade como um todo e não apenas nos dados. Em diferentes situações, a lacuna de gênero é reforçada de maneira sutil ou não, fazendo com que mulheres incríveis e muito talentosas questionem a sua capacidade.


O entendimento e a discussão sobre o tema é o primeiro passo para mitigarmos essa lacuna, então já se considere como agente de transformação por ter chegado até aqui. Vamos juntes?


Referências



 

Vanessa tem 18 anos e mora no sul de Minas Gerais. É redatora do ElaSTEMpoder e está em um ano sabático. É apaixonada por contar histórias através da escrita e de produções audiovisuais - a arte caminha ao lado da ciência pra ela. Fã de qualquer banda indie folk, está sempre procurando por novos lugares para ver o pôr do sol.

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