Desde pequenos somos instigados à escrita, ao aprendizado de novas palavras, de manusear um lápis até quando crescemos um pouco mais, a criação de um diário. São instintos naturais do ser racional. É bem verdade também, que outro grande instinto do ser humano é a curiosidade; a incessante busca pelo porquê é, senão a maior, característica humana. Ambas, quando juntadas, formam-se obras incríveis e muito apreciadas. Ora, são cabíveis ao meio científico, como os diários e cartas de Darwin, que posteriormente montaram sua teoria. Ora, são apreciadas como arte, como as obras de Júlio Verne, o pai da ficção científica.
A forma como a ciência transita intimamente nas obras de Verne é pertinente, o autor sempre fez questão de descrever minuciosamente os objetos e conhecimentos científicos da época. São por essas razões e outras, que a coluna "Ciência e Arte" trará um pouco mais das obras do autor e filmes com temas da geofísica, em prol da semana do Meio Ambiente.
O gênero ficção científica se caracteriza pelo extrapolamento da ciência na imaginação do autor. Jules Gabriel Verne, tinha uma habilidade assídua em tais extrapolamentos para sua época. Nascido em 1828 na França, no auge das ideias iluministas, suas obras foram visionárias e muitos dos objetos criados apenas em sua imaginação, tomaram vida vários anos depois.
Formado em Direito por pressão familiar, sua verdadeira paixão sempre foi a escrita e, posteriormente, seguiu-a. Verne nunca parou de escrever, e em todas as suas obras, a ambição e apreço pela ciência são evidentes. Apaixonado por marinha e mecânica, suas obras sempre se refletiam em cunhos matemáticos.
Roland Barthes, pensador francês da psicanálise e da semiótica em seu livro Mitologias, em contexto de crítica a burguesia francesa, sobre a obra de Verne:
'Além dos inumeráveis recursos da ciência, Verne inventou um excelente meio romanesco de tornar clara essa apropriação do mundo: garantir o espaço por intermédio do tempo, unir permanentemente estas duas categorias, arriscá-las num mesmo lance de dados ou num mesmo impulso irrefletido, sempre bem-sucedidos. As próprias peripécias têm como função imprimir ao mundo uma espécie de consistência elástica, afastar e em seguida aproximar a clausura, brincar agilmente com as distâncias cósmicas, pôr, maliciosamente, à prova o poder do homem sobre os espaços e os horários. E, neste planeta triunfalmente tragado pelo herói verniano, espécie de Anteu burguês cujas noites são inocentes e "reparadoras", arrasta-se por vezes um "desesperado", vítima do remorso ou do spleen, vestígio de uma época romântica terminada, e que faz ressaltar, por contraste, a saúde dos verdadeiros proprietários do mundo, que apenas se preocupam em adaptar-se o mais perfeitamente possível a situações cuja complexidade, de modo algum metafísica e nem mesmo moral, é devida simplesmente a determinado capricho mordaz da geografia.'
Certamente você já conhece alguma obra do famoso autor, pai de um gênero tão aclamado no mundo moderno, por isso, aqui vai uma pequena listagem de algumas de suas obras:
Cinco semanas em um balão (1863)
A obra traz detalhes da geografia, das culturas e dos animais da África. Tudo fruto de pesquisas e da inventividade de Verne, que nunca pôs os pés no continente africano ou em um balão.
Viagem ao centro da terra (1864)
Após decifrarem um código oculto em misteriosas inscrições rúnicas, o professor Lidenbrock e seu sobrinho Axel embarcam numa jornada que homem algum ousaria trilhar. Em meio a sua descida rumo ao centro da Terra, os dois aventureiros enfrentam situações inimagináveis.
Da Terra à Lua (1865)
Quando os membros do Baltimore Gun Club veteranos de guerra entediados decidem embarcar em um projeto para atirar na lua, começa a corrida para arrecadar dinheiro, superar desafios de engenharia e convencer os detratores de que eles não são Lunáticos.
Os filhos do capitão Grant (1866-1868)
Uma mensagem numa garrafa lançada ao mar é o ponto de partida de uma expedição que passa pela América do Sul, Austrália e Nova Zelândia. A vida do capitão Grant e dos seus companheiros está em risco. Será que os aventureiros a bordo do Duncan vão conseguir salvá-los?
Vinte mil léguas submarinas (1870)
Nesta aventura, Verne constrói um submarino ultramoderno para a época (1866), o Náutilus. Nele, o capitão Nemo e sua tripulação cortam relações com a humidade e partem para uma aventura marítima, já que para a sobrevivência precisam apenas da eletricidade obtida na imensidade do mar.
A volta ao mundo em oitenta dias (1872)
Phileas Fogg, um inglês rico, metódico e um tanto quanto solitário aposta com seus colegas do clube de jogos que conseguirá dar uma volta ao mundo em apenas 80 dias. Para tal feito, o excêntrico Fogg convida seu fiel empregado Jean Passepartout e juntos viverão muitas aventuras.
A ilha misteriosa (1873-1875)
Depois de sequestrar um balão de um campo confederado, um grupo de cinco abolicionistas americanos cai das nuvens em uma ilha vulcânica desconhecida no oceano Pacífico. Agora, precisam lutar pela própria sobrevivência. Juntos eles se empenham em construir uma colônia do zero, mas a ilha de recursos abundantes tem segredos inimagináveis que somente a mente criativa de Júlio Verne é capaz de descrever.
Suas obras inspiraram o cinema, e citaremos aqui também, alguns filmes do gênero:
Viagem ao Centro da Terra - O Filme (2008)
A Volta ao Mundo em 80 Dias (2004)
O Núcleo - Missão ao Centro da Terra (2003)
2012 (2009)
Terremoto: A Falha de San Andreas (2015)
A Caverna (2017)
Desfrute dessas obras incríveis, garota cientista! Afinal, não é só de pesquisa que uma cientista vive. :)
Aproveite também para refletir sobre o Meio Ambiente e os desdobramentos dos estudos da geociência, um campo tão extraordinário. Reflita, mas também aproveite a incomparável obra de Verne, que apenas com imaginação e algumas horas em bibliotecas lendo sobre, construiu esse império chamado Ficção Científica!
Fonte: Revista Quatro Cinco Um, eBiografia e Revista Galileu.
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