Falar sobre o Dia da Consciência Negra muitas vezes é cansativo para pessoas pretas, sobretudo mulheres. Como pensar em revolução quando o amor não é possível? Eu concordo e faço as palavras de Bell Hooks um mantra em minha vida: “o amor cura”.
A solidão da mulher negra é uma realidade. Os atravessamentos de gênero e raça trazem ressonâncias marcantes na afetividade de nós, mulheres pretas. Sempre melhores amigas, mas nunca líderes de um grupo. Sempre desejadas sexualmente, mas desde que isso não se torne público. Sempre acolhedoras, mas nunca acolhidas. O afeto nos é negado desde a infância. Afinal, até a “fragilidade” feminina não é considerada quando se fala em meninas pretas.
É preciso reconstruir autoestima, empoderar, fortalecer e acima de tudo reconhecer que nossos afetos são políticos. A quem se destina o nosso amor? Em quais relações nos propomos a dedicar tempo, energia e afeto? Nós escutamos, lemos e admiramos mulheres negras? São reflexões como essas que muitas vezes nos colocam diante do racismo que estrutura a sociedade brasileira. Quando olhamos a nossa volta e normalizamos que não existam imagens e narrativas de mulheres negras sendo verdadeiramente amadas.
Não há revolução e superação do racismo sem que pensemos os nossos afetos. Os vínculos amorosos são essenciais no entendimento das nossas dinâmicas sociais. Não há potência quando o afeto é negado. Precisamos construir um Brasil em que pessoas pretas estejam se amando em praça pública e não sendo violentadas em suas subjetividades.
No Dia da Consciência Negra eu quero falar de afetos. Não um afeto raso, mercantilista e produtivista. Mas um afeto que abraça minha ancestralidade, constrói autoestima e potencializa a minha luta. Enquanto houver amor podemos mudar o fluxo da vida. Não há revolução racial sem que pretas e pretos estejam se amando em praça pública.
Autora: Juara Castro da Conceição
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